A CP entregou na semana passada ao Governo o estudo da consultora A. T. Kearney sobre os modelos alternativos de subconcessão do serviço ferroviário suburbano das linhas de Lisboa e Porto a empresas privados.
O documento, que custou 243 mil euros, estabelece também os vários cenários possíveis para a duração do contrato entre o Estado e os concessionários e quais as respectivas compensações financeiras pelo serviço a prestar, a cedência dos comboios, a afectação do pessoal e o contrato de manutenção do material circulante.
O modelo para o qual o Governo se inclina nem será, em rigor, uma concessão, visto que não será o Estado a concessionar o serviço, mas sim a própria CP. Estará assim em causa uma subconcessão, em que o operador público incumbente - a CP - entregará a exploração ferroviária suburbana de Lisboa e Porto a empresas privadas mediante um concurso público.
Os grupos Barraqueiro e Transdev já fizeram saber que estão interessados nestas concessões. O primeiro é o maior operador privado de transportes públicos em Portugal, detentor da Fertagus, dos metros do Porto e do Sul do Tejo e de várias empresas rodoviárias, e o segundo é uma multinacional de origem francesa que opera em 28 países.
José Luís Catarino, administrador da Barraqueiro, diz que o seu grupo tem provas dadas em termos de competência e competitividade e sublinha que tem conseguido resultados positivos pois a Fertagus (que explora a linha suburbana entre Lisboa e Setúbal pela ponte 25 de Abril) já vai deixar de receber dinheiro do Estado e o próprio Metro do Porto espera para este ano resultados operacionais positivos.
"Não tememos a concorrência porque temos muita competência e know how", diz o administrador, quando confrontado com a experiência de um grupo internacional como é a Transdev. De resto, a própria Barraqueiro é detida em 30 por cento por uma multinacional - a britânica Arriva, que por sua vez é detida em parte pelos caminhos-de-ferros alemães, DB.
Por sua vez, Alain Descamps, administrador da Transdev, argumenta com "a nossa experiência internacional e competência técnica em todas as partes do mundo" para concorrer às concessões da CP Lisboa e CP Porto.
Em Portugal este grupo tem mais de 2000 funcionários, operando sobretudo nos transportes rodoviários, mas é responsável por dezenas de concessões ferroviárias em vários países. O seu administrador diz que o caso alemão e o australiano são os mais próximos da situação portuguesa e que em ambos a Transdev conseguiu baixar significativamente os custos de exploração sem prejuízo da qualidade da oferta. Alerta, contudo, que os privados só por si "não fazem milagres" e que tudo depende dos termos dos contratos de concessão.
"Quando há gorduras não se pode pensar que vamos fazer uma revolução. As coisas têm de ser geridas de uma forma humana e com concertação, sobretudo ao nível do pessoal, que não deverá ir para a rua só porque entrou um privado", diz.
Estando a Barraqueiro a operar na Grande Lisboa através da Fertagus poder-se-á dizer que a CP Lisboa seria o mercado natural daquele grupo? José Luís Catarino diz que não há um "mercado natural", mas reconhece que há sinergias nessa situação. E não tem medo de falar em monopólio, que "é vantajoso para a empresa e para as pessoas" uma vez que se podem reduzir custos de exploração graças às economias de escala. Exemplo disso, diz o administrador, é que a privada Fertagus só aumentou o seu tarifário em 7,5 por cento, enquanto na CP Lisboa e nos outros operadores públicos esse aumento foi de 15 por cento.
Já o investigador em transportes, José Manuel Viegas, diz que as desvantagens do abuso de posição dominante numa situação de monopólio podem ser maiores do que as vantagens das economias de escala. E que isso só pode ser evitado se o contrato de concessão for blindado do ponto de vista do interesse público.PUBLICO
01.08.2011
CARLOS CIPRIANO
O documento, que custou 243 mil euros, estabelece também os vários cenários possíveis para a duração do contrato entre o Estado e os concessionários e quais as respectivas compensações financeiras pelo serviço a prestar, a cedência dos comboios, a afectação do pessoal e o contrato de manutenção do material circulante.
O modelo para o qual o Governo se inclina nem será, em rigor, uma concessão, visto que não será o Estado a concessionar o serviço, mas sim a própria CP. Estará assim em causa uma subconcessão, em que o operador público incumbente - a CP - entregará a exploração ferroviária suburbana de Lisboa e Porto a empresas privadas mediante um concurso público.
Os grupos Barraqueiro e Transdev já fizeram saber que estão interessados nestas concessões. O primeiro é o maior operador privado de transportes públicos em Portugal, detentor da Fertagus, dos metros do Porto e do Sul do Tejo e de várias empresas rodoviárias, e o segundo é uma multinacional de origem francesa que opera em 28 países.
José Luís Catarino, administrador da Barraqueiro, diz que o seu grupo tem provas dadas em termos de competência e competitividade e sublinha que tem conseguido resultados positivos pois a Fertagus (que explora a linha suburbana entre Lisboa e Setúbal pela ponte 25 de Abril) já vai deixar de receber dinheiro do Estado e o próprio Metro do Porto espera para este ano resultados operacionais positivos.
"Não tememos a concorrência porque temos muita competência e know how", diz o administrador, quando confrontado com a experiência de um grupo internacional como é a Transdev. De resto, a própria Barraqueiro é detida em 30 por cento por uma multinacional - a britânica Arriva, que por sua vez é detida em parte pelos caminhos-de-ferros alemães, DB.
Por sua vez, Alain Descamps, administrador da Transdev, argumenta com "a nossa experiência internacional e competência técnica em todas as partes do mundo" para concorrer às concessões da CP Lisboa e CP Porto.
Em Portugal este grupo tem mais de 2000 funcionários, operando sobretudo nos transportes rodoviários, mas é responsável por dezenas de concessões ferroviárias em vários países. O seu administrador diz que o caso alemão e o australiano são os mais próximos da situação portuguesa e que em ambos a Transdev conseguiu baixar significativamente os custos de exploração sem prejuízo da qualidade da oferta. Alerta, contudo, que os privados só por si "não fazem milagres" e que tudo depende dos termos dos contratos de concessão.
"Quando há gorduras não se pode pensar que vamos fazer uma revolução. As coisas têm de ser geridas de uma forma humana e com concertação, sobretudo ao nível do pessoal, que não deverá ir para a rua só porque entrou um privado", diz.
Estando a Barraqueiro a operar na Grande Lisboa através da Fertagus poder-se-á dizer que a CP Lisboa seria o mercado natural daquele grupo? José Luís Catarino diz que não há um "mercado natural", mas reconhece que há sinergias nessa situação. E não tem medo de falar em monopólio, que "é vantajoso para a empresa e para as pessoas" uma vez que se podem reduzir custos de exploração graças às economias de escala. Exemplo disso, diz o administrador, é que a privada Fertagus só aumentou o seu tarifário em 7,5 por cento, enquanto na CP Lisboa e nos outros operadores públicos esse aumento foi de 15 por cento.
Já o investigador em transportes, José Manuel Viegas, diz que as desvantagens do abuso de posição dominante numa situação de monopólio podem ser maiores do que as vantagens das economias de escala. E que isso só pode ser evitado se o contrato de concessão for blindado do ponto de vista do interesse público.PUBLICO
01.08.2011
CARLOS CIPRIANO