Deputados do PSD eleitos pelo distrito de Leiria estão ao lado dos autarcas de Leiria, Figueira da Foz e Nazaré nas críticas. Troço teve prejuízos de 1,8 milhões de euros em 2010
São 105 quilómetros de via férrea, entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz, que a partir de Dezembro deixam de ter serviço de passageiros, passando o transporte a ser assegurado por uma concessão rodoviária.
A decisão consta do Plano Estratégico de Transportes (PET) que justifica a medida como uma forma de racionalizar a rede ferroviária nacional e afecta também os concelhos de Alcobaça, Nazaré, Marinha Grande e Leiria, ou seja, uma das regiões do país com maior densidade populacional.
A capital de distrito, Leiria, que até há pouco tempo julgava que iria ter o TGV, fica assim, de repente, sem o comboio de alta velocidade e sem a linha convencional.
"A partir do momento em que foi posto em causa o TGV, esperava que a linha do Oeste fosse requalificada", disse ao PÚBLICO o presidente da Câmara de Leiria, Raul Castro (PS).
O autarca referiu que a alta velocidade colocaria Leiria a 25 minutos de Lisboa, podendo fixar na sua cidade pessoas que trabalhariam na capital. Mas agora constata que a capital de distrito fica reduzido ao transporte rodoviário que, afirma, "não é uma solução de futuro devido ao seu impacto ambiental negativo" e porque, com a crise, haveria pessoas que procurariam agora o comboio.
O fim da linha preocupa também o presidente da Câmara da Figueira da Foz, João Ataíde (PS), para quem tem de ser "muito bem ponderado o impacto do custo/benefício" da decisão. "Não houve a definição de uma estratégia de longo prazo e lançaram-se vias rodoviárias que não tiveram a utilização expectável. Agora vão-se suprimir meios que melhor podem satisfazer as populações em tempo de dificuldades financeiras", disse João Ataíde à Lusa. Com a perda da única ligação directa da Figueira da Foz a Lisboa, o autarca entende que se impõe "uma ligação rápida" e mais eficiente do que a actual à linha do Norte, através de Coimbra.
Também o executivo da Câmara da Nazaré (PSD) está contra o fim do serviço de passageiros, considerando que a medida "contradiz a estratégia de mobilidade territorial e do distrito" de Leiria. A autarquia aprovou anteontem por unanimidade uma moção na qual mostra "apreensão e discordância" em relação à decisão.
Mas não são só os autarcas a manifestarem-se contra o encerramento. A decisão é igualmente criticada pelos deputados do PSD eleitos por Leiria. "A solução não é aquela que sempre defendemos e que sempre entendemos como a mais adequada do ponto de vista da ferrovia para a região Centro, o distrito ou para o país", disse à Lusa o deputado Paulo Baptista, falando em nome dos colegas de bancada. E sublinhou que a linha "é viável desde que sejam feitos os investimentos necessários".
Porém, são poucos os passageiros que viajam na linha do Oeste. A norte das Caldas da Rainha a empresa tem, em cada sentido, quatro comboios para a Figueira da Foz e um para Coimbra que, no ano passado, transportaram 187 mil clientes, numa média de 46 pessoas por composição.
Os prejuízos deste troço foram de 1,8 milhões de euros, um valor que não chega a 1 por cento dos resultados líquidos negativos da CP em 2010 (-195 milhões de euros).
Culpa das auto-estradas?
As razões da fraca procura do comboio na linha do Oeste nada têm a ver com as das linhas do interior do país que vão encerrar e onde, simplesmente, não há população. No litoral da região Centro é a concorrência rodoviária, sobretudo depois da inauguração da A8 e da A17 - e que correm paralelas à via férrea - que explica, em parte, o declínio da ferrovia.
A linha do Oeste nunca foi alvo de uma modernização e mantém um sistema de exploração do início do séc. XIX, totalmente dependente de meios humanos, em que são os agentes da Refer nas estações que, telefonando para a estação seguinte, asseguram o avanço das composições e o seu cruzamento, porque a linha é de via única.
Apesar destas limitações, é no eixo a norte das Caldas da Rainha que a linha tem mais competitividade face à oferta rodoviária. A viagem de comboio das Caldas para Coimbra é directa e demora 1h58 e no autocarro demora entre 2h20 e 2h30 (incluindo, em alguns casos, um transbordo). O preço também é mais favorável para o caminho-de-ferro: 11 euros no comboio contra 13 euros no autocarro.
O problema é que a CP só tem uma ligação directa por dia para Coimbra e a Rede de Expressos tem 11. Uma consequência dos sucessivos cortes que a transportadora ferroviária tem vindo a fazer desde há 20 anos neste troço. Menos procura gera menos oferta e esta gera menos procura, num círculo vicioso que leva a este desfecho.
O Governo justifica a medida com os elevados custos de exploração do serviço regional e inclui um gráfico com os custos por passageiro vezes quilómetros percorridos nos vários serviços da CP, onde se nota que o serviço regional da linha do Oeste é um dos mais caros de toda a rede. Cada passageiro custa 54 cêntimos, contra, por exemplo, os 4 cêntimos de um passageiro do Alfa Pendular.
O PET diz que as populações que ficam sem o comboio serão servidas por concessões rodoviárias, mas o Governo não explica quem será o concedente. A CP diz que não faz sentido um operador ferroviário concessionar um serviço rodoviário.
A sul das Caldas da Rainha, na ligação a Lisboa, a linha do Oeste vai continuar a funcionar, mantendo-se na parte norte o serviço de passageiros no qual circulam diariamente quatro comboios (dois da CP Carga e dois da Takargo).
São 105 quilómetros de via férrea, entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz, que a partir de Dezembro deixam de ter serviço de passageiros, passando o transporte a ser assegurado por uma concessão rodoviária.
A decisão consta do Plano Estratégico de Transportes (PET) que justifica a medida como uma forma de racionalizar a rede ferroviária nacional e afecta também os concelhos de Alcobaça, Nazaré, Marinha Grande e Leiria, ou seja, uma das regiões do país com maior densidade populacional.
A capital de distrito, Leiria, que até há pouco tempo julgava que iria ter o TGV, fica assim, de repente, sem o comboio de alta velocidade e sem a linha convencional.
"A partir do momento em que foi posto em causa o TGV, esperava que a linha do Oeste fosse requalificada", disse ao PÚBLICO o presidente da Câmara de Leiria, Raul Castro (PS).
O autarca referiu que a alta velocidade colocaria Leiria a 25 minutos de Lisboa, podendo fixar na sua cidade pessoas que trabalhariam na capital. Mas agora constata que a capital de distrito fica reduzido ao transporte rodoviário que, afirma, "não é uma solução de futuro devido ao seu impacto ambiental negativo" e porque, com a crise, haveria pessoas que procurariam agora o comboio.
O fim da linha preocupa também o presidente da Câmara da Figueira da Foz, João Ataíde (PS), para quem tem de ser "muito bem ponderado o impacto do custo/benefício" da decisão. "Não houve a definição de uma estratégia de longo prazo e lançaram-se vias rodoviárias que não tiveram a utilização expectável. Agora vão-se suprimir meios que melhor podem satisfazer as populações em tempo de dificuldades financeiras", disse João Ataíde à Lusa. Com a perda da única ligação directa da Figueira da Foz a Lisboa, o autarca entende que se impõe "uma ligação rápida" e mais eficiente do que a actual à linha do Norte, através de Coimbra.
Também o executivo da Câmara da Nazaré (PSD) está contra o fim do serviço de passageiros, considerando que a medida "contradiz a estratégia de mobilidade territorial e do distrito" de Leiria. A autarquia aprovou anteontem por unanimidade uma moção na qual mostra "apreensão e discordância" em relação à decisão.
Mas não são só os autarcas a manifestarem-se contra o encerramento. A decisão é igualmente criticada pelos deputados do PSD eleitos por Leiria. "A solução não é aquela que sempre defendemos e que sempre entendemos como a mais adequada do ponto de vista da ferrovia para a região Centro, o distrito ou para o país", disse à Lusa o deputado Paulo Baptista, falando em nome dos colegas de bancada. E sublinhou que a linha "é viável desde que sejam feitos os investimentos necessários".
Porém, são poucos os passageiros que viajam na linha do Oeste. A norte das Caldas da Rainha a empresa tem, em cada sentido, quatro comboios para a Figueira da Foz e um para Coimbra que, no ano passado, transportaram 187 mil clientes, numa média de 46 pessoas por composição.
Os prejuízos deste troço foram de 1,8 milhões de euros, um valor que não chega a 1 por cento dos resultados líquidos negativos da CP em 2010 (-195 milhões de euros).
Culpa das auto-estradas?
As razões da fraca procura do comboio na linha do Oeste nada têm a ver com as das linhas do interior do país que vão encerrar e onde, simplesmente, não há população. No litoral da região Centro é a concorrência rodoviária, sobretudo depois da inauguração da A8 e da A17 - e que correm paralelas à via férrea - que explica, em parte, o declínio da ferrovia.
A linha do Oeste nunca foi alvo de uma modernização e mantém um sistema de exploração do início do séc. XIX, totalmente dependente de meios humanos, em que são os agentes da Refer nas estações que, telefonando para a estação seguinte, asseguram o avanço das composições e o seu cruzamento, porque a linha é de via única.
Apesar destas limitações, é no eixo a norte das Caldas da Rainha que a linha tem mais competitividade face à oferta rodoviária. A viagem de comboio das Caldas para Coimbra é directa e demora 1h58 e no autocarro demora entre 2h20 e 2h30 (incluindo, em alguns casos, um transbordo). O preço também é mais favorável para o caminho-de-ferro: 11 euros no comboio contra 13 euros no autocarro.
O problema é que a CP só tem uma ligação directa por dia para Coimbra e a Rede de Expressos tem 11. Uma consequência dos sucessivos cortes que a transportadora ferroviária tem vindo a fazer desde há 20 anos neste troço. Menos procura gera menos oferta e esta gera menos procura, num círculo vicioso que leva a este desfecho.
O Governo justifica a medida com os elevados custos de exploração do serviço regional e inclui um gráfico com os custos por passageiro vezes quilómetros percorridos nos vários serviços da CP, onde se nota que o serviço regional da linha do Oeste é um dos mais caros de toda a rede. Cada passageiro custa 54 cêntimos, contra, por exemplo, os 4 cêntimos de um passageiro do Alfa Pendular.
O PET diz que as populações que ficam sem o comboio serão servidas por concessões rodoviárias, mas o Governo não explica quem será o concedente. A CP diz que não faz sentido um operador ferroviário concessionar um serviço rodoviário.
A sul das Caldas da Rainha, na ligação a Lisboa, a linha do Oeste vai continuar a funcionar, mantendo-se na parte norte o serviço de passageiros no qual circulam diariamente quatro comboios (dois da CP Carga e dois da Takargo).